Você já se deparou com histórias bacanas de pessoas que chegaram aonde queriam? Que elementos estiveram mais em evidência? Que parte que te chamou mais atenção?
Tenho acompanhado contação de histórias empresariais das mais diversas. Normalmente trazem bastante informação do ponto de partida: a ideia, o convite ou o projeto que determinou onde tudo começou e o trecho de mais destaque é o "gran finale", ou seja, o episódio da história que trará a realização do sonho, a chegada ao destino tão desejado.
O trecho, geralmente extenso, que liga o início e o fim deste percurso é contado de uma maneira mais sucinta, o espaço reservado para os percalços é pequeno, sendo apresentado aqueles que não chegam a desnudar o pacote de vulnerabilidades que se está sujeito quando se arrisca a empreender. Como se isso pudesse ofuscar parte do brilho da jornada ou até mesmo destituir o protagonista da posição de herói de sua própria história.
Durante o Empretec, programa de formação de empreendedores no mundo, criado pela ONU, promovido em 40 países e que no Brasil tem o SEBRAE como parceiro, lembro que a partilha dos facilitadores como empreendedores, oferecendo as suas próprias experiências, sem filtro, dos bastidores de seus empreendimentos, foram contribuições potentes para mim. Histórias que foram contadas por quem transitou pela luz e pela sombra com a mesma entrega e inteireza.
A apresentação dessas experiências não era sucinta, não havia pressa em passar rapidinho pelos aprendizados já que não apresentavam para eles um episódio sombrio ou que merecia menos atenção. Eles entendiam que tudo fazia parte e que possuíam igual importância na história empreendedora de cada um deles. Que estar na arena não é simples ou fácil, exige coragem e sobretudo para lidar com as vulnerabilidades que habitam em cada um. Além das competências necessárias para empreender e do conhecimento do nicho que deseja atuar.
O texto de Theodore Roosevelt que Brené Brown encerra a sua palestra "The call to courage" (O poder da coragem) na Netflix, ilustra o que foi citado:
“Não é o crítico que importa, nem aquele que aponta quando o outro tropeça, nem aquele que diz que o outro deveria ter agido diferente.
O mérito é do homem que está na arena, com o rosto de poeira, suor e sangue; que se empenha, que erra, que fracassa uma, duas, três, quatro vezes. Aquele que, no final, embora conheça o triunfo, pode até fracassar, arriscando a ser imperfeito”.
Voltando ao ponto de partida, como preparar a mochila?
Para quem já fez alguma travessia, por alguns dias, sabe como é importante a preparação do que será levado. Nem mais e nem menos. Cada item tem um peso e importância e será levado nas costas. Junto a mochila, o ideal é conhecer previamente as características do lugar que será percorrido, locais das nascentes, pontos interessantes para pernoitar, ou seja, se preparar para a jornada, não desconsiderando que imprevistos poderão ocorrer.
Então, se somos constituídos por histórias e elas determinam não só o presente como o futuro. Se podem tanto nos nutrir quanto desvitalizar. Podem ser leves ou pesadas para se carregar. Faço um convite para considerá-las como itens importantes na mochila que carregarão nas costas também.
E assim, é preciso que elas sejam vistas. Colocadas diante de si e escolhidas ou não para compor a bagagem. Todas possuem seu tempo, função e importância e participam da constelação de experiências da vida de cada um. Para esta jornada, quais delas oferecem os elementos necessários para construir os próximos capítulos?
Muitas vezes, aquelas que precisam estar na trilha ainda não estão no radar. Se encontram ofuscadas pelas histórias mais frequentes do cotidiano, que acabam representando e definindo quem se é. Quantas vezes, não é mantido o que quer que seja por acreditar que aquilo é a única forma possível de ser, de fazer, de estar? Essa verdade faz parte de uma narrativa “carro-chefe” da vida e elas podem ocultar outras possibilidades de acontecer no mundo, talvez as que você tanto deseja mas acredita estar muito distante da sua realidade.
É neste enxergar das próprias histórias que reconhecemos as luzes e as sombras das nossas experiências e transformamos o que foi vivido em recurso em prol das chegadas almejadas.
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